Historicamente, as relações econômicas entre a China e a América Latina e o Caribe (ALC) se basearam no comércio de commodities. Embora isso não tenha mudado de maneira substancial, um grupo pioneiro de empresas latino-americano decidiu se aventurar e investir no mercado chinês, um dos mais importantes e atraentes do mundo.

Como são essas empresas? Como as informações disponíveis não eram exatas, dois economistas do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) identificaram 85 empresas latino-americanas que fizeram investimentos no gigante asiático e analisaram suas características particulares. 

Características das empresas

Os fabricantes de produtos manufaturados são o maior subgrupo da amostra, enquanto o número de prestadores de serviços e empresas do setor primário, cujas atividades estão diretamente relacionadas aos recursos naturais, é menor. Os produtos manufaturados constituem uma categoria ampla que inclui uma vasta gama de empresas, entre as quais, encontra-se um grande número de produtores de peças de reposição para automóveis, empresas siderúrgicas e metalúrgicas, fabricantes de alimentos, de bebidas e de produtos químicos.

As empresas do setor de serviços também constituem um grupo heterogêneo, que representa as indústrias de transporte, serviços de alimentação, finanças, consultoria e fábricas de software e informática. O último grupo abrange principalmente as empresas das áreas de mineração, petróleo e silvicultura. 

No entanto, ao analisar o valor dos investimentos declarados, observa-se um panorama diferente da participação por setor. Nesse aspecto, os principais participantes são as empresas do setor primário (petróleo, carvão e gás, em especial), fábricas de alimentos e bebidas e serviços financeiros. É importante notar que esses dados sobre a participação são apenas um reflexo dos investimentos declarados, que, muitas vezes, variam consideravelmente em relação aos dados fornecidos por fontes oficiais, como o Mofcom, da China Esses dados podem dar uma ideia geral do volume de investimento por setor e indicar que, embora o número de empresas em setores tais como o petroleiro, mineração e serviços financeiros seja pequeno, poderia representar uma participação desproporcional ao valor total do investimento da ALC na China.

Em geral, os investimentos na China, sejam de grande ou baixa magnitude, são um fenômeno relativamente recente. Mais da metade das 85 empresas incluídas na amostra entrou neste mercado a partir de 2007. Isso não é surpreendente, porque: i) geralmente o investimento segue o comércio, ii) o comércio entre ambas as economias foi ativado em 2000 e iii) a América Latina só começou a criar um grupo importante de empresas orientadas para o exterior nas últimas décadas. 

As pioneiras, que entraram na China antes de 2000, são as maiores empresas e as mais globalizadas da América Latina, que já haviam conquistado uma posição de domínio no mercado regional antes de entrar na China.

As atividades das empresas latino-americanas na China têm duas características principais. Primeiro, muitas (47%) realizam vendas e atividades de suporte e marketing, geralmente, por meio de um escritório ou representação comercial no país. Em geral, correspondem a pequenas operações, muitas vezes, com menos de 10 funcionários e que exigem um investimento mínimo. Com este tipo de presença, as empresas podem entender melhor as necessidades dos seus clientes e do mercado, permitindo oferecer produtos adequados, estudar os novos nichos e estabelecer relacionamentos mais próximos com os clientes.

A produção e a prestação direta de serviços é a outra atividade principal das empresas. De fato, 64% dessas empresas produzem ou fornecem serviços diretos na China, nas áreas de produção, refino e processamento de recursos naturais, sob a alegação de que são atividades de valor agregado que transformam matérias-primas em produtos novos.

Em geral, as empresas do setor primário e de manufaturas que produzem na China são as maiores empresas da região, muitas vezes, grupos de empresas diversificadas. Dentre essas empresas estão: Cemex, Grupo Alfa e Grupo Bimbo, do México; Embraco, Embraer e Vale, do Brasil; Tenaris, da Argentina, e Sigdo Koppers, do Chile.

Na área de serviços, observa-se que quase todas as empresas usam sua presença na China para oferecer serviços diretos aos clientes. Por exemplo, como muitos serviços são flexíveis e com baixo investimento, é muito mais fácil iniciar uma operação desse tipo do que uma empresa que venda peças para automóveis, que precisa de uma fábrica para produzir. Além disso, no caso de algumas empresas desse setor, tais como restaurantes e transportes, a prestação e o consumo devem ocorrer de maneira simultânea, o que torna necessária uma presença direta.